Monday, June 11, 2007

Filhos de Deus

Provavelmente vou soar a um idiota insensível, ainda mais que o normal. Mas correndo esse risco... tenho que ser sincero e dizer... estou cansado (para não dizer farto) de ver notícias relativas à pequena Madeleine McCann. Não ponho em causa os esforços da polícia portuguesa nem da britânica (que afirma ser especialista em resolver casos como este, mas não deve ser dentro das suas fronteiras, dado os inúmeros casos que ficam por solucionar – o que não é nada do outro mundo, ninguém é infalível, nem mesmo os britânicos) nem ponho em causa os esforços dos pais de se valerem da mediatização que o caso criou para criar ou aumentar as hipóteses de encontrar a filha e de que todos os dias tentem despertar a atenção da imprensa para que o caso não morra e continue a mover esforços e apoios para a sua causa. Se estivesse no lugar deles, também iria fazer tudo para encontrar a minha filha, tentasse mover mundos e fundos... talvez não a deixasse sozinha em casa com os dois irmãos gémeos mais novos que ela enquanto fosse jantar fora com a minha esposa, mas penso que isso seja uma questão de educação e no mínimo, bom senso.

Percebo e aceito que essa mediatização seja uma arma usada pelo casal para tentar reaver a filha mas sinceramente já não aguento ouvir mais sobre o caso. E além de estar constantemente a levar com notícias de que o casal McCann foi a Holanda, ao Vaticano, a Espanha, a Marrocos, ao Vale da Porca, à Terra-Média ou a Gotham City, o que me faz espécie é o facto de que se uma criança portuguesa fosse raptada na Inglaterra, não havia nem um terço da celeuma que foi criado à volta do caso. Aliás, quantas crianças não desaparecem todos os dias dentro do nosso país e nem ouvimos uma notícia sobre isso?

Uma vida, é uma vida, seja inglesa, alentejana ou marciana. As diferenças que a sociedade ocidental, supostamente avançada, cria entre elas é que faz com que umas pareçam que têm mais valor que outras. Como é que se sente a família que perdeu o filho ou filha em situações idênticas e que não teve nem metade da cobertura mediática que este caso teve? Como é que se sentem os pais, que com os filhos desaparecidos, vêem que não houve por parte da polícia a mesma concentração de esforços que está a haver para este caso. Acredito que um polícia cumpre sempre ou tenta cumprir sempre o seu dever da melhor maneira que pode (ou em muitos casos, lhe deixam) mas só se fosse cego é que diria que não há das esferas mais altas uma forte influência para que este caso fosse resolvido rapidamente.

É complicado sentir que a vida de quem amamos vale menos por não sermos ninguém de "importante". É exactamente o que eu ouço todos dias no telejornal, a cada notícia que vejo, a cada viagem que é feita, a cada iniciativa que é levada a cabo ou fundo criado:


Uns são filhos de Deus, outro são filhos da p...