Thursday, October 01, 2009

Saída Pt2

"A porta da rua é a serventia da casa".

Será que era assim? Não me recordo bem, mas também não interessa, não é importante e dá para perceber a ideia de qualquer forma.

As pessoas que conhecemos ou que lidamos agora, no momento presente da nossa vida, para nós duram para sempre, tal como o agora. Um infindável momento presente que vai durar para sempre. O que temos, o que somos, a nossa juventude, as nossas capacidades físicas e mentais. Optamos por ignorar a nossa mortalidade, talvez fruto desta sociedade que nos obriga a andar a 200 km por hora e deixa-nos sem força ou energia para pararmos e reflectirmos. Não vou focar este ponto porque seria conversa para várias páginas de dissertações com mais ou menos valor. É apenas para vos dar um contexto daquilo que eu sinto.

Nesse momento de estupidez ingénua em que pensamos que o presente se perpetua no infinito tal como nós próprios, julgamos igualmente que para tudo o resto assim irá acontecer. Como já disse mil e umas vezes em mil e um sítios, não gosto de mudança embora a mudança goste de mim. A vida tem uma forma engraçada ou pelo menos irónica de me enfiar as mudanças pela goela abaixo, principalmente eu me acomodo a algo, seja a lugares ou pessoas. Mas mesmo assim, não me vou desviar do assunto, que são pessoas e não lugares.

Julgamos que as pessoas que estão na nossa vida são para sempre, estarão connosco para sempre, por fazerem parte do nosso dia-a-dia, a nossa mente preguiçosa e adormecida por este mundo, diz-nos que irá ser sempre assim mas a verdade é que podemos contar pelos dedos de uma mão o número de pessoas que nos acompanha na nossa vida, e que realmente se mantêm próximas, resistindo à nossa evolução, às delas próprias e às mudanças da vida de ambas. Colegas de trabalho que que deixam de o ser e que apesar do contacto diário, é preciso uns tempos largos de ausência para que fique provado - para aqueles que se importam - que não há nada em comum, nada além de um certo espaço e período temporal ter sido partilhado, um momento ou mais momentos, que contrário ao que pesávamos, não se perpetuou no tempo.

Quando acontecem certos reencontros com pessoas que julgávamos próximas, que iriam ser sempre próximas, com quem tínhamos as maiores afinidades, desde gostos musicais a projectos de vida, eles são na maior parte das vezes, confirmações de que o que nos uniu a essas pessoas não foi mais do que uma breve passagem no tempo. Seja por tenhamos ficado na mesma e a outra pessoa tenha mudado radicalmente, seja pela confusão que isso nos faz, mas a verdade é que é impossível não pararmos, contrariamente ao que o mundo quer, para pensarmos:

"Porra, que raio nós tínhamos em comum?"

Ainda não encontrei um ponto negativo em nenhuma destas saídas que aconteceram na minha vida. Seja pelo o que elas significaram para mim e até para as outras pessoas, pela evolução e caminho que a vida nos deu. Mesmo que isso signifique tenha havido uma quebra total, com a qual estivemos contra ou a favor. Com raiva ou apenas com indiferença. Por alguma razão, elas não ficaram. Por alguma razão, não interessa qual. A minha porta já esteve mais fechada, já esteve mais à vista de todos, talvez não seja a mais convidativa e admito que seja intimidante, mas não me interessa, porque continuam cá dentro os que precisam de estar. Quando não tiverem de estar, a porta da rua continuará a ser a serventia da casa. E talvez, um dia destes, nos encontremos na rua e troquemos falsas esperanças juntos com contactos de telemóvel ou e-mail de recuperar aquilo que já não irá a ser porque já não há mais nada a falar. Nesses momentos em que nos apercebemos que o que nos separa...

são as coisas grandes.