Wednesday, November 23, 2011

Anatomia De Um Desastre de Viação

O ser humano é complexo. O seu principal objectivo é a felicidade e ele faz tudo (ou quase tudo, dependendo do indivíduo) para a atingir ou mantê-la. O problema do ser humano é que ele não consegue controlar totalmente o meio em que se insere, nem as coisas que surgem no seu caminho, por muito que ele tente evitar, fugir, escapar, o destino inevitavelmente vai ao seu encontro. Entenda-se por destino a desgraça.  O ser humano antes de ter um acidente de viação é um ser incompleto. É um ser insatisfeito, em luta consigo próprio para que seja aceite pelos amigos, para que tenha sucesso no trabalho, por aquela rapariga que não lhe liga um corno fique loucamente apaixonada por ele. Após o acidente e, fazendo uma suposição, com alguns membros a menos, o ser humano recorda a altura anterior como o momento em que era feliz. Tudo aquilo que o punha miserável, tudo aquilo que o deitava abaixo perde o significado, porque agora ele tem algo realmente mau, e como tal, precisa de escapar do presente. Em vez de se projectar num futuro positivo, projecta-se num passado irreal que nunca existiu. A criatividade do ser humano, mesmo aqueles espécimes que dizem ser desprovidos da mesma, manifesta-se de forma dissimulada. 
O ser humano passa por imensos desastres ao longo da sua vida. Pessoas que vão e vêm, desgosto, raiva, dor, dor, dor e... dor. O problema do ser humano é algo chamado ego e o que o ego faz é aumentar a dor presente para níveis insuportáveis. Criar conflictos, guerras internas porque é o que ele faz. Culpa, remorso, julgamento, emoções descontroladas. O ser humano é o seu pior inimigo e os acidentes de viação só servem para criarem novas guerras. Todos temos acidentes de viação durante ao longo da sua vida, todos esses mesmos acidentes abalam, mais ou menos, a felicidade a que se propõe atingir. O que o ser humano tem dificuldade em conseguir ver é que a felicidade que ele procura não está no momento anterior do acidente e sim posterior. Embora a sua criatividade para arranjar formas de se torturar a si próprio seja grande, a incapacidade de discernir, de improvisar, de largar o que não interessa para trás, adaptar-se e continuar é bem maior.

No fundo, sabendo ou não isto, continuamos todos a tentar a fugir do próximo acidente e a correr simultaneamente para ele sem nos apercebermos.

Monday, September 12, 2011

Amigos

O que move o ser humano para gastar energia a por outro ou outros para baixo? É algo que me escapa, sinceramente, ao entendimento. Muitas das pessoas que dizem...

Eu merecia ser feliz, porque é que eu não posso ser feliz?

...também acabam por dizer... 

Ele/a é feliz, porquê? Porque é que ele/a tem sorte de ter família, dinheiro, amigos, namorada/o e eu não?

...e acabam por desaguar muitas vezes no...

Odeio vê-los felizes! Quem eles pensam que são? Sempre aos sorrisos, sempre bem dispostos, sempre cheios de luz! Odeio-os!

Apesar de ao longo da minha vida ter lidado com pessoas assim e apesar de ter considerado algumas como minha amigas e pensar, talvez ingenuamente, que ficariam felizes pela felicidade dos amigos, tal como os amigos certamente lhe desejam, o que é certo é que acabo por encontrar pessoas capazes de dispender energias a impedir que os outros sejam felizes. A inveja. É certo que poderão dizer...

São apenas pensamentos.

Já se sentiram mal com pensamentos que tiveram? Pensamentos de desconfiança, pensamentos de dor, pensamentos de raiva. Já se sentiram esgotados? E são apenas pensamentos. Nós somos o que pensamos. Mesmo que usemos uma máscara para ocultar os nosso pensamentos, nós somos o que pensamos. E o peso das máscaras ainda nos esgota mais. O que me leva a pensar ainda mais que as pessoas que não se contentam pela felicidade dos outros. Essa felicidade devia ser um motor para que também a tentassem arranjar para eles próprios.

Mas não. Estas pessoas vêem-se tão fatalmente envoltas em merda que querem que acham que é mais fácil os outros também estarem na mesma condição do que elas próprias saírem do sítio onde se encontram. No entanto, não é isto que me entristece, estas pessoas agirem desta forma. O que me entristece é estas pessoas serem minhas "amigas" e de me colocarem numa posição complicada em que não sei em quem mais confiar. Quem são os meus verdadeiros amigos, quem não são? Será que quando me dizem, estou feliz por ti, será que estão realmente? Ou será que me estão a amaldiçoar nos seus pensamentos por ver a sorrir, por me ver mais leve?

Haverá sempre esquinas em que irei saber quem está realmente comigo e quem, por algum motivo, não me suporta ver feliz. Há sempre pistas, pequenos detalhes que revelam isso, mas nem sempre se tem a paciência, energia ou clarividência para ver para além do óbvio, mesmo quando o para além do óbvio é mais que óbvio.

Se sei que ter esse tipo de pensamentos é uma perda de energia, também sei que lidar com pessoas assim também o é. Não merece o esforço tentar compreender, não merece o esforço fingir que está tudo bem porque mais cedo ou mais tarde, a retribuição dessas acções voltam ao seu ponto de origem.

What comes around, comes around.

Sunday, May 15, 2011

Preocupações

O ser humano precisa de se preocupar. Quando não sabe com que se preocupar, preocupa-se até que essa preocupação seja preocupação suficiente para se preocupar. Não tem que ser assim, necessariamente. Não há necessidade de preocupação porque esta só serve para distrair e minar forças. E sim, isto é o que eu digo a mim mesmo quando me preocupo em demasiado com um assunto e sim, raramente anula essa mesma preocupação. Talvez o facto de me preocupar significa que realmente me importo, que realmente algo ou alguém tem valor para mim. O segredo, como tudo na vida, está em não deixar que essa preocupação se torne em obcessão ou desculpa para mergulhar, mais uma vez, nas profundezas. Infelizmente, não tenho que me preocupar por falta de preocupações na minha vida, desde económicas, familiares até sentimentais, e embora todas sejam familiares e o jogo diferente do que dos anteriores, o jogador também não é o mesmo. O único desejo é que essa diferença seja suficiente para superar as dificuldades e para que caso não as supere, não ser motivo para (mais uma) crucificação.

Ops... acho que encontrei mais uma preocupação...

Monday, January 31, 2011

A Socialização Parte 1

Não sei como se faz. É um mistério. Durante algumas fases penso que as pessoas passam todas o mesmo que eu, quando por exemplo têm que ir a uma festa de anos de uma pessoa que gostam bastante mas que depois não conhecem mais ninguém. O sentir deslocado num meio que apesar de não parecer (e admito, não o ser), torna-se ameaçador. Mas penso, na minha ingenuidade ou esperança - ainda não descobri qual das duas - que também as outras pessoas nesses eventos são como eu, que não querem sair de casa para estar a ensaiar sorrisos e não têm conversa nenhuma para fazer com pessoas que mal conhecem. O problema é que é preciso passar por esses momentos porque o ser humano é, para o bem ou para o mal, um animal social. No fundo todo o processo da socialização é para mim como ir ao laboratório em que tenho de fazer análises ao sangue. Fechar os olhos e pensar que é só uma pica e pronto.

O meu principal problema é que não me custa nada tirar sangue, agora estar com pessoas que não conheço em ambientes de festa... dá-me vontade de experimentar uma endoscopia rectal.