Friday, March 14, 2014

Breve Ensaio Sobre O Medo Pt. 2: A Mudança

Quando o medo se instala por alguém, as nossas acções condicionam-se. Imagina-se a pessoa a sair da nossa vida e sente-se um pânico, um aperto no coração difícil de suportar. Pensa-se "como posso viver eu sem tal pessoa?" Quando aquilo que é uma fantasia doentia começa a ter reflexos na realidade, o pânico leva ao desespero e tudo começa a ser permitido. Tudo é opção para não se perder aquela pessoa que se sente está a perder. E quanto mais se faz, mais a pessoa se afasta, quanto mais se esbraceja e esperneia, mais aquilo que não queremos se torna iminente.

Antes de chegar a este ponto, existe um outro, não menos saudável. As pessoas estão juntas, em qualquer tipo de relação (amorosa, amizade, profissional) quando faz sentido. Quando há algo natural que as mantém próximas ou em contacto. Quando há algo que faz mudar essa proximidade e uma das partes não quer perdê-la, tenta-se mudar algo para que essa proximidade volte a ser o que era. Quando as mudanças são naturais, não existe nada que se possa fazer para tentar recuperar o que já foi e não é no momento. Ou se aceita, ou perde-se muita energia a resistir a tal até que não se tem alternativa - por vezes, bastante tempo depois - e tem de se aceitar.

E quando as mudanças não são naturais? Quando alguém muda apenas para agradar outra pessoa que supostamente lhe diz que a aceita tal como ela é, mas na verdade, critica sempre quando há manifestações de comportamentos que considera inaceitáveis. Comportamentos que fazem parte da personalidade da pessoa. Ela muda. Anula-se a si própria. Em nome do amor, em nome de uma carreira, até em nome de uma amizade.

"Eu gosto do amarelo"
"Não é correcto que gostes do amarelo"
"Ok... posso gostar do vermelho?"
"O vermelho... também não é de bom tom. Como é que alguém pode gostar do vermelho? E o verde, o verde é bonito. Tu agora gostas do verde."
"Eu adoro o verde desde sempre, é a minha cor favorita."

Pode-se mudar o que se quiser, pode-se fazer o que quiser, mas a verdade é que ninguém está tanto tempo connosco do que nós próprios e quando se quer agradar, tentar prender alguém, anulando o que se é... quando se tenta ser de forma pouco natural o que não é, quando se tenta mudar as condições... acaba-se sempre com a mesma pessoa de sempre - nós próprios - e um espelho à frente, para nos lembrar de que há certas coisas que não se conseguem mudar. Certas coisas nunca vão ser mudadas, por muito que nos enganemos a nós próprios. O espelho nunca engana, mesmo quando se está de olhos fechados ou de costas voltadas para ele.