Wednesday, July 11, 2007

Dispensáveis

Estou um bocado em estado de choque... foram precisos dois casos ficarem mediáticos (um pelo menos que trouxe o outro por arrasto ao conhecimento público) de pessoas que morreram se lhes ter sido dada a dignidade de passarem à reforma por invalidez tendo sendo obrigados a trabalhar, num caso com leucemia e noutra com cancro. Já sabemos que o cidadão desconhecido não é mais que um número para governantes, patronato, os chamados “powers that be”. E poderia soltar uma série de argumentos comuno-rebeldes – mas que não deixam de ser verdadeiros – de como a nossa sociedade se torna cada vez mais desumana, de como somos todos (ou quase todos porque quem tem poder não tem este tipo de preocupações) carne para canhão. Dispensáveis. Como é que alguém decide que uma pessoa com leucemia está apta para trabalhar? Qual é o critério de avaliação? E só agora chegaram à conclusão de que é necessário o painel da junta médica ser apenas formado por médicos? Foram preciso duas mortes ficarem conhecidas para que se chegue a esta conclusão? E o que acho mais engraçado nestes casos é que quando os jornalistas recorrem às entidades para pedir esclarecimentos, estas nunca estão disponíveis para prestar declarações. O cidadão comum tem que andar na linha, pagar os seus impostos, cumprir as 8 horas diárias de trabalho, pagar os seguros, pagar os serviços de saúde, auto-estradas e segurança social enquanto as pessoas responsáveis por um serviço nem se dignam a falar dele quando este não funcionou bem. Ai Jesus se há algum director a assumir responsabilidades, que se ele é director é porque tem outras pessoas que podem assumir a responsabilidade por ele. Nestes dois casos, é previsível que não se procure sequer saber quem achou que uma professora com leucemia e um outro com um cancro que quase o impedia de falar estavam mais que aptos para dar aulas. Ironia do destino seria se fosse alguém que neste momento estivesse de baixa psiquiátrica por remorsos da merda que fez. Mas não. Para quem não assume responsabilidades está sempre tudo bem.

Ssshh, faz de conta que não aconteceu.