Não é novidade nenhuma o que vou dizer, principalmente para quem me conhece, ou para quem me julga conhecer.
Estou farto desde mundo.
Das pessoas e dos seus esquemas. Do faz de conta, das aparências, das falsas simpatias, dos sorrisos por favor, da crescente banalização de tudo e principalmente, da minha crescente falta de interesse em arranjar energias e soluções para este problema. Acabo por sempre dizer que não tenho como mudar o mundo inteiro e é verdade. Este raciocínio acaba por ser sempre o fim da conversa.
Não adianta, vamos todos queimar, vamos todos morrer, o que adianta tentar, o que adianta fazer?
No entanto, também é verdade que podemos dar o nosso pequeno contributo, fazer a nossa parte, o que nos compete. E o que é que nos compete fazer, podem perguntar vocês com direito a receber resposta?
Não embarcarmos em facilitismos, controlar o que se faz, porque nós somos o que fazemos mas nem sempre fazemos o que queremos. É importante estar no comando e embora se pense que estão sempre no controle das suas próprias acções. Basta pensar na quantidade de vezes que entram numa grande superfície a querer levar uma determinada coisa e não encontram o que procuram mas acabam por levar uma mão cheia de outras que até não pensaram sequer em comprar. Ou então, quando se está alguma tempo a ouvir falar mal de certa pessoa ou assunto e que quando há mais algum elemento novo que aparece, o julgamento já está feito. Ou ainda coisas que fazemos porque estamos habituados a fazê-las, um hábito, porque estes impedem-nos de pensar, mantém-nos adormecidos. A rotina.
E sim, contra mim falo.
Talvez se começar por me preocupar mais comigo e menos com o que anda à minha volta, talvez se me concentrar mais nas minhas acções, não deixar de pensar em favor de rotinas pré-estabelecidas, talvez aí eu possa começar a mudança, talvez aí a minha mudança seja contagiosa, talvez aí me consiga manter acordado vinte e quatro horas por dia e não apenas por breves momentos. Sei que a crescente indiferença por este mundo é parte de um processo, processo que, quando adormecidos, temos receio de abandonar. Quando se dá muita importância ao que é material, é difícil de o largar. Agora, quando cada vez se dá menos importância, bem... tudo é bom quando vem naturalmente.
Se eu me conseguir manter acordado cada vez por mais tempo, isso vai-me obrigar a cada vez mais concentrar-me para não adormecer, ficar atento a cada movimento a cada detalhe e nessa altura, de certeza de que o mundo já não me vai preocupar tanto.
Nessa altura, ele irá mudar.