Quantas vezes não deram de frente com situações que julgavam impossíveis, com a quebra de momentos que julgavam intermináveis, relações que chegam ao fim quando nada fazia prever isso, relações que começam quando também nada fazia prever isso? Provavelmente nem deram conta disso, se têm um espírito aventureiro, se gostam de mudança, se precisam dela. Eu sou o oposto. Eu gosto da rotina, gosto da segurança mas é engraçado verificar como a vida faz as coisas por mim. Cada vez que eu quero me acomodar a algo, a pessoas, a ambientes, seja o que for, a mudança aparece. A mudança imprevisível. A cada vez que penso que estou a estagnar, que preciso de uma mudança para a minha vida, quer profissional, quer a nível pessoal mas que não tenho o discernimento para a encontrar ou coragem para a encetar, a vida trata das coisas por mim.
Mais do que engraçado, chega a ser irónico, colocar limites a mim mesmo, coisas que disse que nunca ia fazer e quando dou conta, já as faço há meses, anos. Como uma cena do filme da Joia do Nilo em que a personagem do Danny DeVito está a passar por uma espécie de iniciação no grupo que protege a Joia. Essa iniciação consistia em andar descalço por cima de brasas incandescentes. A primeira reacção foi de recusa que fosse capaz de o fazer e de medo pela dor que podia provocar tal prova. Ao falar com a pessoa que o estava a iniciar, começou a andar reparando apenas alguns metros depois que já estava a caminhar pelas brasas sem se aperceber. Acredito que muitas vezes a nossa vida é assim, faz-nos caminhar por brasas sem nos apercebermos que o estamos a fazer. E quando damos conta, pensamos para connosco próprios:
"Afinal não era assim tão difícil."
Se calhar, só precisamos de ter alguém com quem falar para nos distrair e não nos fazer pensar nas brasas que os nossos pés descalços estão a pisar.