A propósito do futebol, há algo que continua a surpreender-me nos seres humanos, em geral - não só aos adeptos de futebol em particular. A capacidade que existe em ganhar conforto pelos fracassos dos outros. Ou seja, a melhor forma de encontrarem alguma paz, alguma alegria nas suas vidas, através dos revés, falhanços, azares, tristezas nas vidas dos outros. Ou seja, a única coisa positiva na vida dessas pessoas é aquilo que é negativo na vida dos outros.
Não será uma forma preguiçosa de trazer sentido e bem estar ao seu quotidiano? O que seria destas pessoas quando à sua volta está tudo em. Imaginemos que o vizinho não foi despedido, nem que o filho do vizinho não chumbou de ano, ou que a mulher do vizinho não tem uma relação extra-conjugal. Agora imaginemos que a pessoa que usava estas pequenas coisas para se elevar acima ("ao menos não o meu marido não foi despedido, ao menos o meu filho não chumbou, ao menos a minha mulher não me traiu"), só tem bem estar e sucesso à sua volta. Do que é que ela se vai alimentar? E acima de tudo, se ela não tiver estes factores externos, o que é que ela vai arranjar para encarar de melhor forma a sua própria vida, aquela que considerou não ter interesse ao ponto de ter que arranjar factores de interesse exteriores a si?
Bem, se calhar o exemplo é um pouco irreal... As pessoas que normalmente se alimentam da miséria alheia nunca têm casos de sucesso à sua volta, porque assim algo de bom acontece, a tendência é sempre para minimizar:
"Arranjou emprego? Deve ter sido cunha, nunca quis trabalhar na vida."
"Passou de ano? Deve ter sido milagre, é burro como uma porta e só faz asneiras."
"Vão num fim de semana romântico? Coitado, se soubesse o que dizem da mulher dele."
Mesmo quando não há algo negativo, as pessoas têm que arranjar assunto para conversar, as pessoas precisam de falar, as pessoas precisam de assunto, de algo que as afaste das suas vidas, porque quanto a essas já perderam qualquer esperança que se torne positiva.