Estou irritado com a minha conformidade, estou inconformado
com a minha apatia. Embora por vezes me surja de forma dissimulada e me
contagie e envolva sem me aperceber, existem dias em que a lucidez me invade e
eu consigo, com mistos de ansiedade e revolta, quebrar com o padrão. A questão
é que… eu sei que não dura muito tempo. Este estado é o mortal consciente da
sua mortalidade, que sabe que o tempo é curto e que tudo pode desaparecer de um
momento para o outro. Se tivéssemos noção da nossa pequenez, da nossa
mortalidade, da rapidez com que tudo o que temos e somos aparece e desaparece,
talvez o vivêssemos mais a fundo, talvez vivêssemos em pleno. Cada dia é uma
oportunidade para algo. Temos as manias das grandezas e não paramos para ver e
sentir os pequenos detalhes. Os eternos e pequenos detalhes. Aquelas coisas que
estão lá sempre, e que por vezes, apenas damos conta quando não conseguimos ou
quando não podemos. Aí é que aparece o drama dos detalhes, dos abraços, das
mensagens, de tudo aquilo que poderia ou deveria ter sido feito mas não o foi.
Hoje. Hoje é o dia. Hoje é o dia para ser espremido até à
exaustão, para ser retirado tudo o que ele nos tem para dar. E não tem que ser
uma lista de coisas, uma lista enorme de coisas, palpáveis e quantificáveis.
Apenas tem que ser chegar ao final do dia e sentir… hoje fiz tudo o que podia
fazer. Estou em paz. Com o mundo mas principalmente comigo.
Esse sentimento de paz… é o sinónimo de viver o dia em
pleno. É o que eu quero.