Uma das perguntas mais frequentes que as minhas amigas me fazem é sem dúvida: "Então e meninas?" Ao que eu respondo sempre... "Meninas não há". Pode não ser sempre desta forma, mas a mensagem principal é esta. A pergunta que vem de seguida é que me trama sempre. "Então porquê?" E depois de estes anos todos (ok, não são assim muitos mas achei que ficava bem este toque extra de drama) ainda não tenho uma resposta convincente. Tento alternar a típica resposta não-resposta "Não há porque não há" com a descrição do que sou como justificação para o não sucesso do que diz respeito à companhia amorosa do sexo oposto. Esta segunda resposta leva sempre a uma outra resposta imediata: "As mulheres andam todas cegas". Ora... o que é que se pode responder a isto?
"Bem...sim"
Mas é frustrante, um mundo cheio de mulheres e as que se cruzam no meu caminho são todas invisuais. Era uma boa justificação e ouvir isto da boca das outras pessoas, sem dúvida que alimenta o ego, mas não é bem o que eu acredito.
E isso leva-nos à primeira resposta. A não-resposta. E o problema com esta resposta é que não satisfaz a quem a ouve. Regride o caro ouvinte à tenra idade em que a resposta a tudo é "porquê?" e não nada que os satisfaça. A cada tentativa tento usar mais imaginação, cruzar novos limites da mente humana em busca de respostas que satisfaçam a fome de respostas das pessoas que gostam e se preocupam comigo.
A verdade é que sou exigente ou outras pessoas diriam, sou esquisito. Não é fácil agradar um misantrópico em recuperação, eremita convicto com a capacidade de demonstrar emoções de um banco de jardim e com fortes e flageladoras tendências antisociais culminando com uma capacidade incrível de se afogar em projectos literários, musicais e afins. E mais difícil do que agradar a este tipo de pessoa, é alguém querer, de livre e boa vontade, sem torturas, qualquer tipo de droga ou desequilíbrio mental, suportar alguém assim. Não alguém excêntrico (excêntricos são os ricos) porque nos dias que passam mal tenho dinheiro para comer. Alguém... esquisito. E acredito que a minha esquisitice possa ser algo que fascine algumas mulheres por alguns minutos mas inevitavelmente acabam por se cansar senão elas próprias começam a por em causa as barreiras, por vezes frágeis, das concepções que têm do mundo, da maneira como o vêem, sentem e absorvem. Ou seja, enlouquecem. E obviamente, desaparecem antes que esse processo se complete. E ainda bem, não quero ter esse peso na consciência. No fundo sou uma doença que ainda não encontrou a pessoa certa para infectar. Não peço muito... apenas alguém com quem possa aprender um pouco. E não é preciso muito, mas isso não diminui em nada a dificuldade da tarefa. A partir do momento em que tenho quase um aneurisma devido à tarefa hercúlea de tentar arranjar assunto para conversa porque do outro lado só vem ar quente, é porque algo está errado. Não tenho nada contra ar quente. Dá jeito... se eu for um balão. O meu problema é que eu vivo há demasiado tempo comigo mesmo e então preciso de alguém interessante o suficiente que faça com saia de mim próprio por uns instantes sem ter medo de mergulhar num desolador vazio sem fim.
Também há o problema das modas. Numa era em que para se ser aceite se criou a convenção de que tem que se inserir em certas prateleiras. Eu odeio prateleiras. Mais uma esquisitice minha mas eu acredito que elas não servem para nada. Todos os membros desses clubes, por alguma razão ou outra deixam de o ser passado uns tempos. Maturidade, talvez? Quero acreditar que sim. As bissexuais descobrem a luz ao lado do seu namorado (as lésbicas também são sobrevalorizadas pelos homens, do que serve ter uma namorada lésbica se ela namora com um homem e não com uma mulher? É como ter um frigorífico que serve de micro-ondas); as góticas deixam de ouvir HIM, Evanescence, Within Temptation ou o quer que seja que tentam impingir actualmente e queimam as roupas pretas agora que arranjaram um emprego e/ou namorado; as vegans e vegetarianas lá se descaiem e descobrem as maravilhas do cozido à portuguesa; as nazis depois de terem sido espancadas, abusadas e traídas (não necessariamente por esta ordem) pelos respectivos namorados nazis - normalmente a razão da conversão, porque nem sempre a estupidez vem de nascença, na maior parte das vezes aprende-se - começam a ter dúvidas. Quando surge uma pergunta no vazio, é sempre positivo, mesmo que a probabilidade da resposta surgir seja a mesma do Q.I. subir. Também há as sadomasocas féticheiras (que se repararem bem são sempre as que são mais púdicas, mais reservadas e mais puritanas que gostam de ser amarradas e penduradas com e por cordas grossas) que carregam no botão on e off conforme as festas e as pessoas que querem impressionar.Talvez no início a fórmula de iniciação seja a mesma utilizada para ouvir Toranja. Só se gosta depois de muito se sofrer.
São apenas 5 pequenos exemplos, mas cada vez mais temos menos barreiras entre as prateleiras. Dá-me ideia que elas estão num barco em alto mar, vem uma vaga mais forte, as prateleiras tombam e voilá, temos uma gótica bissexual vegetariana que devido ao namorado nazi tornou-se sadomasoca.
Pode acontecer...
Na verdade não tenho nada contra nenhum destes grupos... bem, à parte dos nazis que tenho mesmo um problema grave com eles, mas de resto é tudo uma questão de sinceridade. Uma vez que fosse gostava de sentir que não é uma questão de integração mas que as pessoas realmente acreditam nas convicções que afirmam ter. E é raro isso acontecer. À parte das nazis, mas isso também não é novidade nenhuma...
Surge também o problema etário. Mulheres mais novas que eu gostam e dão importância a coisas que abomino. As mulheres mais velhas têm tendência para achar que eu sou muito à frente e que eu estou muito acima delas. Normalmente eu estou muito atrás - já que sou preguiçoso e não gosto de me mexer muito - e muito abaixo porque eu tenho grande respeito e temor pelo sexo oposto. Admiro-o, amo-o e temo-o na mesma medida, apesar de todas mulheres que são uma vergonha para o próprio sexo. Aposto que elas podem dizer o mesmo em relação aos homens, por isso julgo que a questão seja equilibrada. De qualquer maneira, as mulheres para mim são a primeira maravilha do mundo. Todas as maravilhas deviam descer uma casa para dar espaço à maravilha que é a mulher.
E é por ter esta especial admiração e cagunfa do sexo feminino, que espero tanto dele. Espero constantemente que me surpreenda com rasgos de cultura, com citações de Vergílio Ferreira, com bandas progressivas suecas da década de 70, grindcore sinfónico das filipinas ou bootlegs de Miles Davis em Paris nos anos 60, com filmes independentes húngaros. Que seja esta fonte eterna e renovável de conhecimento que me deixe a sorrir de admiração sempre que ouvir a voz dela. Mas que esta extraordinária quantidade de conhecimento cultural não tenha influência na quantidade abusiva de carinho que tem para dar.
Hipoteticamente... claro.
Esta é a explicação mais elaborada (e sem dúvida mais rebuscada) que eu posso alguma vez dar à pergunta de porquê não haver meninas na minha vida. E apesar de ser longa, possivelmente a resposta não iria satisfazer na mesma a curiosidade voraz de quem pergunta.
Assim sendo, continuo a optar por:
"Não há porque não há."
"Bem...sim"
Mas é frustrante, um mundo cheio de mulheres e as que se cruzam no meu caminho são todas invisuais. Era uma boa justificação e ouvir isto da boca das outras pessoas, sem dúvida que alimenta o ego, mas não é bem o que eu acredito.
E isso leva-nos à primeira resposta. A não-resposta. E o problema com esta resposta é que não satisfaz a quem a ouve. Regride o caro ouvinte à tenra idade em que a resposta a tudo é "porquê?" e não nada que os satisfaça. A cada tentativa tento usar mais imaginação, cruzar novos limites da mente humana em busca de respostas que satisfaçam a fome de respostas das pessoas que gostam e se preocupam comigo.
A verdade é que sou exigente ou outras pessoas diriam, sou esquisito. Não é fácil agradar um misantrópico em recuperação, eremita convicto com a capacidade de demonstrar emoções de um banco de jardim e com fortes e flageladoras tendências antisociais culminando com uma capacidade incrível de se afogar em projectos literários, musicais e afins. E mais difícil do que agradar a este tipo de pessoa, é alguém querer, de livre e boa vontade, sem torturas, qualquer tipo de droga ou desequilíbrio mental, suportar alguém assim. Não alguém excêntrico (excêntricos são os ricos) porque nos dias que passam mal tenho dinheiro para comer. Alguém... esquisito. E acredito que a minha esquisitice possa ser algo que fascine algumas mulheres por alguns minutos mas inevitavelmente acabam por se cansar senão elas próprias começam a por em causa as barreiras, por vezes frágeis, das concepções que têm do mundo, da maneira como o vêem, sentem e absorvem. Ou seja, enlouquecem. E obviamente, desaparecem antes que esse processo se complete. E ainda bem, não quero ter esse peso na consciência. No fundo sou uma doença que ainda não encontrou a pessoa certa para infectar. Não peço muito... apenas alguém com quem possa aprender um pouco. E não é preciso muito, mas isso não diminui em nada a dificuldade da tarefa. A partir do momento em que tenho quase um aneurisma devido à tarefa hercúlea de tentar arranjar assunto para conversa porque do outro lado só vem ar quente, é porque algo está errado. Não tenho nada contra ar quente. Dá jeito... se eu for um balão. O meu problema é que eu vivo há demasiado tempo comigo mesmo e então preciso de alguém interessante o suficiente que faça com saia de mim próprio por uns instantes sem ter medo de mergulhar num desolador vazio sem fim.
Também há o problema das modas. Numa era em que para se ser aceite se criou a convenção de que tem que se inserir em certas prateleiras. Eu odeio prateleiras. Mais uma esquisitice minha mas eu acredito que elas não servem para nada. Todos os membros desses clubes, por alguma razão ou outra deixam de o ser passado uns tempos. Maturidade, talvez? Quero acreditar que sim. As bissexuais descobrem a luz ao lado do seu namorado (as lésbicas também são sobrevalorizadas pelos homens, do que serve ter uma namorada lésbica se ela namora com um homem e não com uma mulher? É como ter um frigorífico que serve de micro-ondas); as góticas deixam de ouvir HIM, Evanescence, Within Temptation ou o quer que seja que tentam impingir actualmente e queimam as roupas pretas agora que arranjaram um emprego e/ou namorado; as vegans e vegetarianas lá se descaiem e descobrem as maravilhas do cozido à portuguesa; as nazis depois de terem sido espancadas, abusadas e traídas (não necessariamente por esta ordem) pelos respectivos namorados nazis - normalmente a razão da conversão, porque nem sempre a estupidez vem de nascença, na maior parte das vezes aprende-se - começam a ter dúvidas. Quando surge uma pergunta no vazio, é sempre positivo, mesmo que a probabilidade da resposta surgir seja a mesma do Q.I. subir. Também há as sadomasocas féticheiras (que se repararem bem são sempre as que são mais púdicas, mais reservadas e mais puritanas que gostam de ser amarradas e penduradas com e por cordas grossas) que carregam no botão on e off conforme as festas e as pessoas que querem impressionar.Talvez no início a fórmula de iniciação seja a mesma utilizada para ouvir Toranja. Só se gosta depois de muito se sofrer.
São apenas 5 pequenos exemplos, mas cada vez mais temos menos barreiras entre as prateleiras. Dá-me ideia que elas estão num barco em alto mar, vem uma vaga mais forte, as prateleiras tombam e voilá, temos uma gótica bissexual vegetariana que devido ao namorado nazi tornou-se sadomasoca.
Pode acontecer...
Na verdade não tenho nada contra nenhum destes grupos... bem, à parte dos nazis que tenho mesmo um problema grave com eles, mas de resto é tudo uma questão de sinceridade. Uma vez que fosse gostava de sentir que não é uma questão de integração mas que as pessoas realmente acreditam nas convicções que afirmam ter. E é raro isso acontecer. À parte das nazis, mas isso também não é novidade nenhuma...
Surge também o problema etário. Mulheres mais novas que eu gostam e dão importância a coisas que abomino. As mulheres mais velhas têm tendência para achar que eu sou muito à frente e que eu estou muito acima delas. Normalmente eu estou muito atrás - já que sou preguiçoso e não gosto de me mexer muito - e muito abaixo porque eu tenho grande respeito e temor pelo sexo oposto. Admiro-o, amo-o e temo-o na mesma medida, apesar de todas mulheres que são uma vergonha para o próprio sexo. Aposto que elas podem dizer o mesmo em relação aos homens, por isso julgo que a questão seja equilibrada. De qualquer maneira, as mulheres para mim são a primeira maravilha do mundo. Todas as maravilhas deviam descer uma casa para dar espaço à maravilha que é a mulher.
E é por ter esta especial admiração e cagunfa do sexo feminino, que espero tanto dele. Espero constantemente que me surpreenda com rasgos de cultura, com citações de Vergílio Ferreira, com bandas progressivas suecas da década de 70, grindcore sinfónico das filipinas ou bootlegs de Miles Davis em Paris nos anos 60, com filmes independentes húngaros. Que seja esta fonte eterna e renovável de conhecimento que me deixe a sorrir de admiração sempre que ouvir a voz dela. Mas que esta extraordinária quantidade de conhecimento cultural não tenha influência na quantidade abusiva de carinho que tem para dar.
Hipoteticamente... claro.
Esta é a explicação mais elaborada (e sem dúvida mais rebuscada) que eu posso alguma vez dar à pergunta de porquê não haver meninas na minha vida. E apesar de ser longa, possivelmente a resposta não iria satisfazer na mesma a curiosidade voraz de quem pergunta.
Assim sendo, continuo a optar por:
"Não há porque não há."
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