Somos insaciáveis. Queremos mais e mais e mais para disfarçar o quão perdidos estamos. Preciso disto, preciso daquilo, só nessa altura poderei ser feliz. A melhor forma de nunca passar pelo problema da desesperança em relação à fome será pedir o impossível e assim sabe-se que se vai ter sempre fome e que a solução pode cair, por milagre, no nosso joelho. Se se for por etapas, então a vida vai ser um constante de desilusões. Sonha-se com algo, deseja-se algo muito e consegue-se atingir esse objectivo. Passado pouco tempo é como se não se tivesse nada. Então precisa-se de se desejar uma outra coisa. Algo que faça com que se seja mais feliz, para tapar o vazio, matar a fome. Deseja-se, precisa-se, consegue-se. E vai-se acumulando coisas, pessoas, experiências. Sempre para tapar o vazio que continua a crescer. Até que se está muito cansado e velho. Não há forças para agir e espalha-se pelo corpo e manifesta-se sobre a forma de tristeza. Olha-se para trás e o que se vê não é tudo o que se conquistou, não é tudo o que se viveu. Apenas o que não se têm e o que não se viveu. A fome escava o vazio de cada ser humano. E apenas quando é tarde demais é que ele se dá conta que a fome nunca podia ter sido morta com coisas, com viagens, experiências ou pessoas. A fome devia ter sido morta com ele próprio porque o vazio de cada um é do tamanho de si próprio.
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