Perdi completamente a capacidade de falar com outros seres humanos. Não sei se alguma vez a tive. A única maneira que tenho de ter uma conversa profunda e algo libertadora é falando com os meus dedos no teclado e a ver letras pretas a aparecerem no ecrã com o fundo branco. Mas não é uma conversa a sério, é um monólogo. O assustador é que eu sinto exactamente o mesmo quando falo com as pessoas, que essa é a razão pela qual não falo com as pessoas. Eu sei o que elas vão dizer, eu sei o que elas vão pensar. Sei o que elas vão dizer para eu ultrapassar as constantes depressões, alterações de humor, o quer que seja. Sei porque as respostas que me dão são as mesmas que tenho. Não chega, quero outra coisa qualquer. Sinto-me à procura do divino no mundano e a ficar eternamente frustrado não por saber que não o vou encontrar mas por saber que não vou desistir. Por teimosia, por estupidez por cegueira auto-inflingida.
E depois de tanto tempo continuo sem saber o que tenho, depois de tanto tempo continuo a precisar de deitar tudo cá para fora, na forma de letras pretas a aparecerem no ecrã com fundo branco, porque é único que se mantém por perto, é unico que por mais que diga idiotices não se afasta. Não porque não quer, apenas porque não pode.
Tal como eu.
E depois de tanto tempo continuo sem saber o que tenho, depois de tanto tempo continuo a precisar de deitar tudo cá para fora, na forma de letras pretas a aparecerem no ecrã com fundo branco, porque é único que se mantém por perto, é unico que por mais que diga idiotices não se afasta. Não porque não quer, apenas porque não pode.
Tal como eu.
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