Mudar de vida. Esta declaração é algo constante nas nossas
vidas, muitas das vezes até talvez dita de forma leviana. Ou pelo menos é assim
entendida, porque aquilo que é feito é bem diferente daquilo que é dito. A
verdade, crua e dura, é que estamos numa sociedade que nos deixa poucos espaços
para mudanças. Numa sociedade onde é mais importante aprendermos naquilo que
poderá dar mais dividendos financeiros do que propriamente naquilo que gostamos
– um dos graves problemas do nosso sistema de ensino, entre muitos. Então
sentimo-nos presos. E dizemos ao mundo, aos amigos ou apenas a nós próprios,
que queremos mudar de vida.
Mas não fazemos nada. E nada muda. A não ser que a mudança
que algo apareça, que algo aconteça.
Desde hábitos, forma de estar até ao emprego, para tudo
aquilo que não gostamos a mesma linha de acção: unicamente dizer “tenho que
mudar de vida”. Projectamos para o futuro esse acto porque no presente não
acreditamos que isso possa acontecer. No presente não sentimos que tenhamos
força para tal. E colocamos aquilo que deve ser a nossa tarefa nas mãos de algo
indefinido e incerto como o futuro. Recusamo-nos a viver no presente e ansiamos
por um futuro que à partida colocamos como inalcançável. Por medo do que mudar
de vida representa, por medo de perder o conforto que achamos que não podemos
viver sem. Se fôssemos a traduzir palavras por imagem, seria como não querer
deixar a prisão apenas porque a cama tem colchão.
Vivemos em prisões mas antes de culpar a sociedade, o
governo, o ensino, o patrão do emprego que odiamos, na verdade temos que nos
culpar a nós próprios porque a porta da prisão está aberta. Apenas acreditamos
na ilusão de que a mesma está fechada, tapada por vários medos que temos. Então
precisamos sempre de coisas exteriores que nos salvem dessa prisão. A nossa
ideia de mudar de vida passa exclusivamente pela necessidade em ganhar o
euromilhões, como se uma quantidade obscena de dinheiro fosse o suficiente para
nos dizer o que quereríamos fazer na vida. Na verdade, aquilo que o euromilhões
permitiria imediatamente seria libertar da prisão na qual nos sentimos presos
no quotidiano.
E saíssemos da prisão? Não procuraríamos por outra onde nos
sentíssemos agradavelmente e confortavelmente adormecidos? É uma questão que
certamente provoca um longo debate e com variadas opiniões. Aquilo que é
importante reter é que a prisão onde sentimos que estamos a cumprir pena, foi
construída por nós próprios. Uma prisão de medo do futuro, insatisfação pelo
presente e sentimento de perda pelo passado.
A chave para libertar da prisão começa por viver o agora. O
mudar de vida começa agora. Por agir da melhor forma com aquilo que somos, com
o viver ao máximo a nossa expressão como seres individuais com qualidades e
defeitos únicos. Permitir-nos a aceitar o dia de hoje como o ponto de partida
para a mudança que tanto precisamos e queremos. Não como uma fuga do presente,
mas como início do caminho para aquilo que somos.
A mudança começa agora.
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